sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Uma Bruxa


Eu sou uma bruxa. Não trabalho para o demônio, não estou interessada no Satã.

Satã foi inventado pelos cristãos. Satanismo é uma forma de cristianismo.

Eu não sou um cristão. Eu não vou a igreja aos domingos. Jesus não é meu salvador.

Ele foi um simples homem sagrado e bom que viveu a 2000 anos atrás.

Eu não temo ir para o inferno tanto quanto acredito no Satã.

Eu acredito em reencarnação; que voltarei para este mundo ou outro, e viverei outra vida.

Eu não sou má. Dizer as pessoas que eu sou uma "boa bruxa" ou perguntar-me se sou uma boa bruxa implica que há más bruxas. Há pessoas más no mundo, e há pessoas que escolhem usar com as forças da natureza no propósito para fazer o mal aos outros; essas pessoas não são bruxas.

A lei principal da bruxa é "Faça o que quiseres sem a ninguém prejudicar".

Por favor não me pergunte sobre sacrifício de gatos ou profanação de igrejas. Eu amo meus gatos. E eu não vou a igrejas e sinagogas a menos que um amigo de outra religião me convide para uma ocasião especial.

E se tenho que entrar numa igreja, eu não vou sofrer um "ataque divino". E se um cristão, ou um Judeu, ou um budista vem a um ritual pagão, nossos deuses não atacarão até morrer. Não é isso algo a se pensar?

Vestir um pentáculo não é diferente que vestir uma cruz, crucifixo ou uma estrela de Davi. Se você quer que eu retire o símbolo a minha religião (e Wicca é uma religião, protegida pela mesma Primeira Emenda dos Direitos como outras religiões.) por que é ofensivo, você precisa fazer com que cada um de cada religião o faça também. Os cinco pontos da estrela simbolizam os cinco elementos: Terra, Água, Fogo e Ar, e o quinto ponto é o Espírito. Circundado pelo Mundo. Como que pode ofender, não dá para imaginar.

Uma imagem de um torturado, um homem agonizando é mais ofensiva, e mesmo assim, milhares de pessoas usam crucifixos todo dia.

Também, não me pergunte se eu estou num coven com aquele jeito horripilante, meio aquele tom de voz "fascinada".

Se eu quero falar sobre meu coven, eu irei educá-la. Se sou um praticante solitário, eu não tenho coven para discutir.

Em qualquer caso, em nossos rituais temos velas, comida, bebidas, poesia, dança... sim, há uma faca, mas ela só corta o Ar, e não carne de ninguém.

Eu não bebo sangue. Não sou a mesma coisa que vampiro.

Eu visto preto porque isso mantém a negatividade fora e porque fica melhor em im que laranja e bolinhas roxo/purpura.

Se você quer me perguntar algo relacionado a minha religião, pergunte-me quando a próxima lua cheia vai chegar. Ou melhor, quando a próxima lua azul vai chegar. Ou pergunte o que é a lua azul.

E pergunte-me sobre ervas. Cristais. Curas. As vezes me pedem para fazer uma poção do amor. Mas eu não lanço feitiços em outras pessoas enão lançarei um feitiço em você para ficar linda, magra, mais atraente. E eu não vou lançar um feitiço no seu "desejado" para ele te amar. Acredite-me, você não quer isso. Isso é forma de manipulação, mandar em alguém, infrigir na sua liberdade. Não é bom para ninguém.

E também não vou lançar um feitiço para alguém parar de fazer algo contigo. Magia funciona como uma co-criação. Uma bruxa funciona com energia universal, com os deuses, "inclinando" a máquina de probabilidade para algo.

Precisa de dinheiro? Não tente enfeitçar seu chefe a dar um aumento. Simplesmente peça ao Universo que aumente os "fluidos" de abundância e prosperidade em sua direção. Isso não afeta ninguém.

Ultima coisa; dar-me um livro sobre ainquisição écomo dar um livro sobre o Holocausto a um judeu. Não é engraçado, é rude.

Por favor não tente me deixar envergonhada com o o que faço ou o que sou. Por favor não tente me converter ou me "salvar". Não atire água benta em mim.

Não me deixe "santinhos" sobre minha mesa ou pára-brisa. Eu não necessito ser salva.

Nõs somos orgulhosas pelo fato de não precisarmos recrutar pessoas para serem bruxas. Nós simplesmente, somos,e todos a nossa volta nos verão como pensamos, como agimos, na nossa paz interior, e só quando uma pessoa diz " como faço para me tornar uma bruxa?" nós fazemos ela adentrar conosco.

Eu nunca irei deixar uma propaganda da religião com alguém. Eu não tenho uma propaganda, a não ser que soncidere esta carta como uma.

E eu não estou interessada em convertê-lo. Eu só peço a você que me compreenda. E se não quiser me compreender, apenas me deixa sozinha.


Abençoados sejam,




Uma bruxa

terça-feira, 14 de outubro de 2008

"Sobre estar sozinho"


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.

O que se busca, hoje, é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência – e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém: algumas vezes, você tem de aprender a perdoar a si mesmo…

(By Flávio Gikovate)